A região conhecida como Valles Marineris – o maior desfiladeiro de todo o sistema solar – pode ter vastas reservas de água, segundo novo estudo divulgado por astrônomos que estudaram novos dados coletados pelo instrumento “FREND”, do orbitador Trace Gas ExoMars, operado em conjunto pela ESA e pela Roscosmos.
Segundo os especialistas, a região conhecida como o “Grand Canyon de Marte” apresenta “quantidades estranhamente altas” de hidrogênio, um dos elementos formadores da água. A presença do elemento químico sugere que reservas do líquido que simboliza a vida estejam escondidas sob as pedras.
A região tem cerca de 4 mil quilômetros (km) de extensão e, segundo sugere o estudo, em profundidades de até um metro abaixo da superfície, o solo provavelmente é rico em água – sendo que ela pode estar presa por minerais ou então em forma de gelo.
“Com o orbitador, nós podemos observar até um metro abaixo dessa camada arenosa e ver o que de fato acontece abaixo da superfície de Marte e, crucialmente, encontrar oásis ricos em água que não poderiam ser detectados antes” disse o físico Igor Mitrofanov, da Academia de Ciências da Rússia e autor primário do estudo.
Segundo o estudioso, o FREND detectou a alta quantidade de hidrogênio na região. O estudo direto ainda é obviamente inviabilizado, mas segundo estimativa do paper, presume-se que 40% do material encontrado possa ser água, partindo do princípio que todo esse hidrogênio esteja atrelado a moléculas do líquido.
Nós já detectamos a presença de água – seja no presente ou sinais dela no passado – em Marte. Entretanto, ela é mais comum nos pólos, em forma de gelo. Entretanto, nas zonas meridianas do planeta vermelho, o clima é mais quente e, dada a ausência de atmosfera e proteção contra o Sol, praticamente todo material líquido da área se evapora por completo.
Estudos anteriores já postularam teorias sobre a presença de água abaixo da superfície, mas somente o FREND conseguiu fazer uma observação mais aprofundada. Isso porque, ao invés de ele mapear a luz na superfície do planeta, o instrumento procura por nêutrons. Isso permite que ele consiga “enxergar” elementos químicos até um metro abaixo da linha da superfície, tal qual ele fez nessa descoberta, em observações conduzidas entre maio de 2018 e fevereiro de 2021.
“Os nêutrons são produzidos quando partículas altamente energizadas – raios cósmicos – atingem Marte; o solo mais seco emite mais nêutrons do que o chão molhado, então isso nos permite deduzir quanta água tem em uma área ao procurarmos por esse componente”, disse o também físico e co-autor do estudo, Alexey Malakhov.
“Nós encontramos uma parte central de Valles Marineris que aparenta ser cheia de água – muito mais do que esperávamos. Ela é bem parecida com a região de pergelissolo da Terra, onde o gelo é permanente sob o solo por causa das temperaturas constantemente baixas”, ele continuou.
A região pesquisada tem mais ou menos o tamanho da Holanda, e normalmente, essa área montanhosa tem pouca ou nenhuma água. Por essa razão, os especialistas acreditam que todo esse volume do líquido esteja abaixo da superfície. Entretanto, eles ainda não sabem responder como essa água se mantém lá.
Isso porque a pressão e temperatura que incidem sobre Marte inviabilizam qualquer formação de água, mesmo em ambientes subterrâneos. No presente momento, apenas especulações sobre isso são possíveis: talvez alguns depósitos estejam pulverizados aqui e ali, protegidos por sombras de formações rochosas com ângulos que as projetam em direções aleatórias, como acontece com o gelo no lado diurno da Lua, por exemplo.
Evidentemente, maiores investigações serão necessárias para termos um panorama mais completo. Mas os dois cientistas prometem continuar averiguando.

Comentários

- PUBLICIDADE -
- PUBLICIDADE -